Reflexões pós-exposição – Triplopia




expotriplopia-scsApós passar pela exposição Triplopia, na Pinacoteca de São Caetano do Sul, com obras de Gregório Gruber, Lorena Hollander e Lúcio Tamino, resolvi escrever algumas reflexões sobre as obras exibidas na exposição.  Não vou falar sobre todas as obras, somente as que marcaram-me. De maneira que o texto não visa realizar uma crítica sobre a exposição, mas somente expor algumas impressões.

Lucio_Tamino_MascaraLogo ao entrar na exposição, vemos uma série de obras inspiradas nas manifestações políticas de 2013. O grande interesse destas advém do uso de materiais que de propaganda política, como cavaletes representante animais em extinção. Como não pensar no fenômeno de estetização da política e da politização da arte, como tratado por Walter Benjamin? Toda manifestação não deixa de ser um processo estético, sendo interessante que o artista Lúcio Tamino ter abraçado este aspecto,  onde criou algumas destas obra sutilizando-as durante as manifestações, como ao transformar cartazes e cavaletes políticos em obras de arte leva a pensar o quanto a propaganda política utiliza-se da estetização para sua autopromoção e ataque, principalmente em épocas eleitorais.


Gregorio Gruber_Multidao_na_PaulistaHá algumas obras de Gregório Gruber representando a cidade de São Paulo e mesmo São Caetano em telas grandes, com técnicas diferentes. Do ponto de vista técnico, não são obras inovadoras, porém, são re-presentações, ou seja, presentificam novamente locais urbanos o qual passamos constantemente porém não os percebemos… Em nossa experiência de temporalidade onde passamos por locais e não os vemos, passamos por pessoas e não as percebemos, s paisagem urbana esconde-se, sendo estas obras um meio de presentificá-las através dos quadros.

Há uma tela de grandes dimensões, de Gregório Gruber e Lúcio Tamino, representando uma paisagem natural de um rio. A tela utiliza uma técnica que remete ao impressionismo, porém de grandes dimensões. Destarte, você é obrigado a afastar-se da tela para efetivamente vê-la, já que quanto mais próxima do quadro, mais vemos as manchas de tintas unidas, sem contornos, por isso é uma técnica que remete ao impressionismo. Dentro de um contexto com obras extremamente urbanas, ter que afastar-se do quadro para ver o rio, não deixa de ser a experiência urbana de não ver paisagens naturais, que estão afastadas, mas também de quem habita regiões rurais e, por isso, deixa de perceber estas paisagens, necessitando afastar-se desta paisagem através de re-presentações para que elas se presentifiquem.

Lorena_Hollander_MudoA combinação de paisagens urbanas com figuras humanas, da Lorena  Hollander, não deixa de ser uma rememoração da ação humana presente nas cidades, construídas. Tanto se fala da frieza das paisagens urbanas, contrapondo-as a paisagens naturais, porém esquecemos que o modo de ser humano é o de construir e arquitetar o ambiente a sua volta, como os diversos viventes. Outras obras tensionam essa relação do humano com a paisagem a sua volta, seja rural, seja urbana, talvez, propondo o modo de ação humana sobre a natureza a sua volta o seu modo de ser, a semelhança que os animais tem seu próprio modo de relacionar-se com a natureza, afinal, não somos também frutos do mesmo elã vital como propõe Bergson?

Outra obra interessante é uma série, de Lorena Hollander, onde havia caixas de vidro presas na parece com penas ao seu fundo e uma imagem desenhada em preto para parte superior da caixa de vidro, de maneira que ao estar em frente, tive a impressão de ver a frente contornos de pássaros com penas ao fundo. Nessa separação da matéria, as penas, da forma, o contorno; apreendemos o quanto separar a forma da matéria é um meio de não-observar a própria vida, na qual forma e matéria intrinsecamente imbrincados.

Havia também uma exposição, denominada Ruído Abóbora, com guitarras como suporte para pinturas. Por mais que as guitarras tenham ficado bem interessantes, ver instrumentos musicais somente para serem observados sem emitirem nenhum som, para um músico pelo menos, é bem estranho e um tanto quanto angustiante…

Há outras coisas a serem vistos na exposição a serem apreciadas. Vale a pena ter sua própria experiência estética com a exposição.
Informações sobre a exposição
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©2014 Tiago de Lima Castro

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