Nerdices Filosóficas – Cristianismo e Ocidente: polêmica? E a cultura pop nisso?
No mês de Dezembro, é muito comum a
espera pelo Natal, onde se comemora o nascimento de Jesus. Desde o
século XVIII é comum criticar-se a influência do cristianismo oficial no
ocidente, a questão é: Filosoficamente, o que o cristianismo trouxe ao
ocidente?
Antes de iniciar a reflexão, é de vital
importância não partimos da fé, seja qual for. Quando analisamos as
consequências filosóficas do cristianismo a cultura ocidental, não são
discussões como: “ser ou não ser cristão”; “ser ou não ser religioso”;
“ser ou não ser ateu”, entre outros. Analisar a influência do
cristianismo é fazer uma genealogia do nosso próprio modo de ser. A
grande dificuldade desta análise é que muitos a realizam partindo de sua
própria fé ou de seus problemas pessoais com a fé, o que não está em
discussão aqui, mas sim a genealogia de nossa própria cultura.
Primeiro é necessário compreender que o
mais correto historicamente seria falarmos de cristianismos, e não de
cristianismo. Nos séculos I-II, havia movimentos que posteriores foram
chamados de cristãos, os quais não eram homogêneos. Estes movimentos
iniciaram-se através da oralidade e não de textos, que fora algo
posterior. Tendemos a falar de cristianismo como sinônimo de Igreja
Católica, o que somente existiu a partir do século IV, com diversos
concílios ecumênicos, formando uma ortodoxia doutrinária e política, de
certa maneira. Posteriormente, houve o grande cisma entre as Igrejas
Ortodoxas e a Igreja Católica, depois ocorrendo o movimento da Reforma e
Contrarreforma. Por isso, analisarmos a influência do cristianismo na
filosofia e cultural ocidentais necessita partir de cristianismos, e não
de um cristianismo único, devido às perspectivas surgidas no século XX e
XXI para este ramo de pesquisa. Sugerimos alguns links ao final para
quem quiser conhecer um pouco do tema.
Quando surge um cristianismo oficial
enquanto religião do Império Romano, com Constantino I, no século IV,
vai haver uma busca por relacionar para articular a filosofia com os
princípios da fé cristã tornada oficial. Porém, analisar as implicações
filosóficas disto propõe tanto uma análise das filosofias cristãs – o
plural aqui também é necessário para haver maior precisão – como as
implicações nas teorias políticas de um estado cristão. Do ponto de
vista filosófica, é complicado falar em uma filosofia cristã, por
exemplo, tanto devida a estas filosofias terem uma relação com teologias
específicas, como dentro de uma mesma teologia possibilitar diferentes
perspectivas filosóficas de um mesmo problema. O panorama é muito mais
amplo do que aparenta ser, por isso o perigo de se utilizar de
reducionismos a tratar destas questões.
Do Iluminismo, em meados do século XVIII,
às críticas de Nietzsche, no século XIX, ocorre uma crítica ao
cristianismo, porém, esta é voltada a um tipo específico de cristianismo
fortemente relacionado à Igreja Católica e às Igrejas Reformados. São
críticas importantes, porém, necessitam ser compreendidas dentro de seus
alvos específicos e aos contextos em que foram escritas, para evitar
uma leitura superficial destas.
Estas análises serão realizadas nos
textos vindouros, porém, é importante discutir também qual a relação
entre cristianismo e cultura pop, ou nerdice se preferir.
A cultura pop, e a nerdice, tem um forte
influência da Idade Média, principalmente de uma imagem desta. O RPG, o
cinema, quadrinhos, games, literatura fantástica, entre outros, tem
circulado em torno de temas “medievais”, como honra, heróis,
entre outros. Mesmo a figura do herói medieval tem reverberação nos
heróis contemporâneos da cultura pop. Como no ocidente Idade Média é
sinônimo de cristianismo da Igreja Católica Apostólica Romana, esta
análise é extremamente interessante para a compreensão da cultura pop.
Pode-se questionar que a volta a Idade
Média poderia ser devido a valores pagãos desta. O termo de paganismo
tem origem para falar de todos que não sejam cristãos, ou seja, implica
em reduzir sob um único denominador uma série de culturas diversas, o
que é extremamente impreciso e desrespeitoso a estas culturas
não-cristãs. O que houve foi certo sincretismo nas práticas religiosas,
mas doutrinariamente o pensamento dominante fora daquele representado
pela Igreja Católica.
Estas são algumas ideias postas para as
análises seguintes, porém, é essencial colocar-se sob uma perspectiva de
estudo e reflexão, e não de autoafirmação de uma fé ou não-fé.
Fontes de aprofundamento
“Quem vos ouve, ouve a mim”: tradições orais na transição do Jesus histórico ao cristianismo mais primitivo, Lair Amaro FariaRevista Jesus Histórico
Publicado originalmente em: http://randomcast.com.br/nerdices-filosoficas-cristianismo-e-ocidente-polemica-e-a-cultura-pop-nisso/#titulo
© 2013 Tiago de Lima Castro
Comentários
Postar um comentário