Nerdices Filosóficas - Filosofia e a Realidade

Nerdices Filosóficas
Revisão: Juan Villegas
Vitrine: Valério Gamer

Continuando nosso papo sobre Nerdices Filosóficas, vamos fazer uma pequena comparação da filosofia com outras formas de conhecer a realidade.

Por mais estranho que pareça a princípio, buscamos conhecer a realidade através de cinco formas principais: pelo senso-comum, pelos mitos, pela ciência, pela arte e pela filosofia. Não há uma hierarquia entre elas, são simplesmente formas de conhecimento diferentes.

Por mais estranho que pareça a princípio, buscamos conhecer a realidade através de cinco formas principais: pelo senso-comum, pelos mitos, pela ciência, pela arte e pela filosofia. Não há uma hierarquia entre elas, são simplesmente formas de conhecimento diferentes.

O senso comum é aquele conhecimento não refletido que assimilamos durante a nossa existência sem mesmo nos dar conta. Quando, por exemplo, justificamos algum hábito através da frase: porque sempre fiz assim, ou mesmo, pois todo mundo faz assim; estamos conhecendo a realidade através do senso comum. O senso comum não é necessariamente ruim, mas não refleti-lo pode ser perigoso em muitas ocasiões.

Os mitos são narrativas criadas para explicar a natureza e as questões existenciais. Cada povo tem seus mitos que tanto ajudam a compreender sua realidade, como a justificar seu modo de vida, tendo uma função educativa, portanto. Não devemos tratá-los de maneira pejorativa, pois também são formas válidas de conhecer a realidade.

A ciência é uma forma de conhecimento que tem por base a experimentação e a verificação das teorias por ela advindas. Esse conceito de ciência é o mais comum, mas na prática não é uma resposta suficiente. Uma resposta um pouco melhor seria dizer que a ciência é busca pela resposta mais satisfatória de um problema. Por mais que em nossa sociedade a ciência é a principal forma de conhecimento, normalmente não pensamos no que é a ciência, no que faz um conhecimento ser científico, ou mesmo não sê-lo. Quem tiver interesse, recomendamos duas obras nas fontes que irão ajudar a entender essa questão.

A arte é outra maneira de conhecer a realidade baseada na experiência advinda do contato com obra de arte. Quando olhamos um quadro, assistimos a um espetáculo, escutamos uma música ou lemos um livro, estamos também conhecendo a realidade através dessa experiência. Essa experiência está mais próxima da intuição e imaginação do que da razão e da especulação.

Já discutimos sobre a filosofia na coluna anterior, mas é importante compreender que podemos filosofar através das perguntas que a existência nos traz, da tradição filosófica ou mesmo partindo das demais formas de conhecimento. Isso não implica em dizer que a filosofia é melhor que o senso comum, os mitos, a ciência e a arte – seria mais apropriado pensarmos em artes, ou invés de arte –, pois, como já disse, são diferentes formas de conhecer a realidade sem que uma seja necessariamente melhor que a outra.

O ponto é que podemos iniciar uma investigação filosófica partindo das outras formas de conhecimento.

Vamos dar um exemplo, ao ver um filme como “O Hobbit” e vivenciamos com Bilbo a sua insegurança em decidir simplesmente ficar em casa, como todo hobbit faria, ou sair de seu vilarejo, o que o afastaria do modo de ser dos hobbits. Será que não podemos formular esse dilema existencial nas questões: Somos aquilo que nossa sociedade nos define ou somos aquilo que escolhemos ser? Será que somos determinados pelos fatores socioculturais ou somos frutos de nossas escolhas e ações? O que é a liberdade?

Perceba que ao assistirmos o filme, estamos vivenciando aquela experiência, a qual pode nos levar a refletir e especular sobre profundas questões advindas dessa experiência. Eu peguei um exemplo, mas o mesmo filme pode levar a outras questões.

Esse encontro, como poderia dizer o filósofo Gilles Deleuze, entre a arte e a filosofia, onde a experiência estética impulsiona a reflexão filosófica é possível e sempre instigante, sendo esse o fio condutor desta coluna.

Há outras maneiras de relacionar a filosofia com as demais formas de conhecimento, como buscar conceituá-las, a exemplo do que faz a filosofia da ciência (epistemologia), discutir sobre o processo contemplação da obra de arte (estética), pesquisar o que é arte (filosofia da arte), entre outros. Há momentos que a própria filosofia se utiliza de mitos, como Platão, ou mesmo filósofos que se utilizam da literatura para se expressar, como em Nietzsche, Sartre, entre outros.

Por hoje vamos ficando por aqui, mas peço que se lembre do último livro que leu, ou do último filme que assistiu, e pense no que te chamou atenção e tente aprofundar essa experiência formulando uma pergunta sobre isso. Pode-se também verificar o que te deixou incomodado neste livro ou filme e pensar se este incômodo não gera uma pergunta filosófica. Quem quiser pode usar os comentários para conversarmos sobre isso.

Vemo-nos na próxima semana falando de Nerdices Filosóficas!

 Fontes para aprofundamento

Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras [Rubem Alves]
O que é ciência afinal? [Allan Chalmers]
Encontros filosóficos [João Epifânio Regis Lima]

Publicado originalmente em:  http://randomcast.com.br/nerdices-filosoficas-filosofia-e-a-realidade/

© 2013 Tiago de Lima Castro

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