Nerdices Filosóficas - Filosofia e a Realidade
Continuando nosso papo sobre Nerdices Filosóficas, vamos fazer uma
pequena comparação da filosofia com outras formas de conhecer a
realidade.
Por mais estranho que pareça a princípio, buscamos conhecer a realidade através de cinco formas principais: pelo senso-comum, pelos mitos, pela ciência, pela arte e pela filosofia. Não há uma hierarquia entre elas, são simplesmente formas de conhecimento diferentes.
Por mais estranho que pareça a princípio, buscamos conhecer a
realidade através de cinco formas principais: pelo senso-comum, pelos
mitos, pela ciência, pela arte e pela filosofia. Não há uma hierarquia
entre elas, são simplesmente formas de conhecimento diferentes.
O senso comum é aquele conhecimento não refletido que assimilamos
durante a nossa existência sem mesmo nos dar conta. Quando, por exemplo,
justificamos algum hábito através da frase: porque sempre fiz assim, ou mesmo, pois todo mundo faz assim;
estamos conhecendo a realidade através do senso comum. O senso comum
não é necessariamente ruim, mas não refleti-lo pode ser perigoso em
muitas ocasiões.
Os mitos são narrativas criadas para explicar a natureza e as
questões existenciais. Cada povo tem seus mitos que tanto ajudam a
compreender sua realidade, como a justificar seu modo de vida, tendo uma
função educativa, portanto. Não devemos tratá-los de maneira
pejorativa, pois também são formas válidas de conhecer a realidade.
A ciência é uma forma de conhecimento que tem por base a
experimentação e a verificação das teorias por ela advindas. Esse
conceito de ciência é o mais comum, mas na prática não é uma resposta
suficiente. Uma resposta um pouco melhor seria dizer que a ciência é
busca pela resposta mais satisfatória de um problema. Por mais que em
nossa sociedade a ciência é a principal forma de conhecimento,
normalmente não pensamos no que é a ciência, no que faz um conhecimento
ser científico, ou mesmo não sê-lo. Quem tiver interesse, recomendamos
duas obras nas fontes que irão ajudar a entender essa questão.
A arte é outra maneira de conhecer a realidade baseada na experiência
advinda do contato com obra de arte. Quando olhamos um quadro,
assistimos a um espetáculo, escutamos uma música ou lemos um livro,
estamos também conhecendo a realidade através dessa experiência. Essa
experiência está mais próxima da intuição e imaginação do que da razão e
da especulação.
Já discutimos sobre a filosofia na coluna anterior, mas é importante
compreender que podemos filosofar através das perguntas que a existência
nos traz, da tradição filosófica ou mesmo partindo das demais formas de
conhecimento. Isso não implica em dizer que a filosofia é melhor que o
senso comum, os mitos, a ciência e a arte – seria mais apropriado
pensarmos em artes, ou invés de arte –, pois, como já disse, são
diferentes formas de conhecer a realidade sem que uma seja
necessariamente melhor que a outra.
O ponto é que podemos iniciar uma investigação filosófica partindo das outras formas de conhecimento.
Vamos dar um exemplo, ao ver um filme como “O Hobbit” e vivenciamos
com Bilbo a sua insegurança em decidir simplesmente ficar em casa, como
todo hobbit faria, ou sair de seu vilarejo, o que o afastaria do modo de
ser dos hobbits. Será que não podemos formular esse dilema existencial
nas questões: Somos aquilo que nossa sociedade nos define ou somos
aquilo que escolhemos ser? Será que somos determinados pelos fatores
socioculturais ou somos frutos de nossas escolhas e ações? O que é a
liberdade?
Perceba que ao assistirmos o filme, estamos vivenciando aquela
experiência, a qual pode nos levar a refletir e especular sobre
profundas questões advindas dessa experiência. Eu peguei um exemplo, mas
o mesmo filme pode levar a outras questões.
Esse encontro, como poderia dizer o filósofo Gilles Deleuze, entre a
arte e a filosofia, onde a experiência estética impulsiona a reflexão
filosófica é possível e sempre instigante, sendo esse o fio condutor
desta coluna.
Há outras maneiras de relacionar a filosofia com as demais formas de
conhecimento, como buscar conceituá-las, a exemplo do que faz a
filosofia da ciência (epistemologia), discutir sobre o processo
contemplação da obra de arte (estética), pesquisar o que é arte
(filosofia da arte), entre outros. Há momentos que a própria filosofia
se utiliza de mitos, como Platão, ou mesmo filósofos que se utilizam da
literatura para se expressar, como em Nietzsche, Sartre, entre outros.
Por hoje vamos ficando por aqui, mas peço que se lembre do último
livro que leu, ou do último filme que assistiu, e pense no que te chamou
atenção e tente aprofundar essa experiência formulando uma pergunta
sobre isso. Pode-se também verificar o que te deixou incomodado neste
livro ou filme e pensar se este incômodo não gera uma pergunta
filosófica. Quem quiser pode usar os comentários para conversarmos sobre
isso.
Vemo-nos na próxima semana falando de Nerdices Filosóficas!
Fontes para aprofundamento
Filosofia da Ciência: introdução ao jogo e suas regras [Rubem Alves]
O que é ciência afinal? [Allan Chalmers]
Encontros filosóficos [João Epifânio Regis Lima]
O que é ciência afinal? [Allan Chalmers]
Encontros filosóficos [João Epifânio Regis Lima]
Publicado originalmente em: http://randomcast.com.br/nerdices-filosoficas-filosofia-e-a-realidade/
© 2013 Tiago de Lima Castro
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